quinta-feira, 10 de novembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PELA/PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: CONVERGÊNCIAS E TENSÕES

UNIVERSIDADE DE UBERABA - UNIUBE
Mestranda: Sandra Alves Farias

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PELA/PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE: CONVERGÊNCIAS E TENSÕES
Daniel Mil
Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

A modalidade de ensino a distância encontra aporte na Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, favorável à parceria entre EaD e formação de professores. Sendo o objetivo maior dessa parceira a democratização do ensino superior com ênfase na formação de professores a distância, muitos debates acerca da formação surgem em torno dessa questão. Para tanto, a concepção do que é ensinar e aprender nesse contexto tem demarcado a necessidade de estudos específicos e mais detalhados sobre esse assunto. Haja vista também ser apropriado observar com cautela e indagar como é tratada cada uma das partes envolvidas nessa relação, como a situação do professor, a formação e o trabalho docente, a internet, o ensino superior a distância, o envolvimento do aluno, os tipos de softwares, as mudanças e inovações educacionais, que tipo de educação se pretende.
             Assim, Mill (2010: 296), propõe em seu texto refletir sobre a formação de educadores Pela e Para a educação a distância, apontando duas possibilidades de relacionar a EaD como modalidade educacional e como campo de trabalho.
             Primeira possibilidade: a EaD como modalidade educacional, sob o ponto de vista pedagógico pode ser usada tanto como meio para o preparo de professores para a educação básica ou superior, ou como ambiente de formação de professores para trabalhar em outra modalidade, a exemplo da presencial.
             Sabendo que diversas questões surgem a partir da relação EaD e formação de professores, Mill (2010: 297) destaca as seguintes em seu texto:
·         O futuro educador em formação para atuar na educação a distância e para a educação presencial necessita das mesmas competências e habilidades?
·         A formação de professores para a educação básica é melhor desenvolvida pela educação presencial ou pela educação a distância?
·         Que diferenças ou particularidades as modalidades guardam para si em termos de positividade ou limitações?
·         Considerando os diferentes níveis (educação básica e superior), podemos dizer que há docentes bem preparados e em quantidades suficiente para trabalhar na educação presencial e na EaD?
              É fato que debates de cunho político sustentam o uso da EaD para a formação de professores a fim de suprir a falta desses profissionais no contexto educacional brasileiro e atender a demanda de profissionais qualificados para a educação básica e com isso reduzir a taxa do abandono escolar. Exemplo disto é o programa Veredas, criado pelo Governo de Minas Gerais e voltado para a graduação de professores e a Universidade Aberta do Brasil (UAB), criada pelo Governo Federal no intuito de fortalecer a educação básica e formar professores.
             Mill apresenta a perspectiva de Belloni (2010) sobre a formação de professores pela EaD. Tendo em vista a EaD como possibilidade de cobrir a carência de professores defende que é necessária uma atualização das dimensões pedagógica, tecnológica e didática para uma adequada formação de professores, tanto para a EaD como para o ensino presencial. É importante também ter certo conhecimento do que é ensinar e aprender no âmbito da formação pela EaD para que a formação seja adequada e atenda aos objetivos do ensino-aprendizagem comuns a qualquer modalidade.
             Sobre a situação atual da formação de professores no Brasil, Mill dispõe de dados do INEP e IBGE de 2003 para mostrar que, embora o número de professores formados tenha crescido seguido também do crescimento do número de matricula na educação básica, o que se verifica é que esse aumento ainda não cobriu a lacuna de professores e  a permanência dos alunos não é comprovada. Fato que justifica implementação de políticas públicas que visem à formação de professores para suprir a demanda no ensino presencial ou a distância.  Sendo essencial nesse ínterim que  formação seja inicial, seja continuada atente para o uso das tecnologias como suporte pedagógico que possibilita ao educador lidar com situações do cotidiano e envolvendo tais situações no processo de ensino e aprendizagem.
              Outro ponto importante é que os debates e críticas que giram em torno dos processos avaliativos e da interatividade no ambiente do ensino a distância através do uso crescente das tecnologias digitais contemporâneas, sobretudo a internet tem contribuído para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem na modalidade a distância. Como se verifica no uso dos vários aplicativos e ferramentas que possibilitam o gerenciamento do processo avaliativo e garantem a interatividade em tempo real.
              Na segunda possibilidade Mill apresenta a EaD como campo de trabalho salientando o trabalho docente nessa perspectiva. Dadas as especificidades que cerca o trabalho docente na EaD o autor, primeiramente evidência alguns pontos importantes para o tema de que se trata: a) a falta de professores para atuar como professores de educação a distância, b) a falta de cursos voltados para a formação inicial de professores da modalidade EaD.  
               Neste contexto, os professores desenvolvem seus saberes na prática cotidiana do trabalho no ambiente virtual. No dizer de Mill (2010:307) estão aprendendo a ser professor, sendo professor.  O que compromete a qualidade do trabalho e o desempenho do trabalhador.
             A formação de professor com perfil coletivo, o polidocente é outro ponto destacado pelo autor. Compreendendo a polivadocência como o compartilhamento das atividades pedagógicas de ensino ou fragmentação do trabalho/saberes docente, típicos na educação a distância, a polidocência traz consigo diversas implicações (positivas ou não), Mil (2010:307). Aqui, acerca da coletividade, do ponto de vista didático-pedagógico significa uma divisão dos saberes docentes entre os membros da polidocência: projetistas educacionais, equipes de audiovisual, ou do ambiente virtual, entre outros, Mill (2010:310). Já na perspectiva do trabalho, a ênfase está na fragmentação dos saberes, alienação do trabalho, instabilidade do trabalho docente, aumento da carga horária de trabalho, novas exigências impostas pelo uso das tecnologias digitais. Essas e outras questões se despontaram como objetos de estudo e despertaram críticas tanto de educadores quanto de pesquisadores do assunto.
        Sobre a formação de professores para/pela EaD, Mill (2010:310) reafirma que o foco da análise pode estar na possibilidade de construção do conhecimento (docente) ou nas condições de trabalho que o docente terá para realizar suas atividades o âmbito da educação a distância. Para tanto, o processo de formação requer a consideração das diferenças entre EaD e ensino presencia ou ensino pela para atuar na EaD, do estágio do desenvolvimento tecnológico de cada época, da disponibilidade e organização no espaço e no tempo do professor para se dedicar à formação pela educação a distância virtual, etc.
             Em seu texto, Mill (2010: 312) conclui em sua análise que os benefícios entre a parceria EaD e formação de professores é para a sociedade em geral. Em suas próprias palavras afirma que todos ganham com essa parceria, desde que parta de uma proposta de formação de professores a distância que prime pela qualidade da formação pela melhoria da formação do futuro cidadão. A EaD é uma das grandes catalisadoras das transformações que a educação brasileira está precisando e a formação de professores é uma das vertentes de contribuição deste catalisador.
          Por guardar muitas particularidades, é de suma importância que os cursos de formação de professores na modalidade EaD estejam embasados em um proposta bem definida de educação e tenham sólidos objetivos bem definidos. Portanto, é a proposta pedagógica que embasa a formação de professores pela EaD e a visão de sociedade que a cerca que determinará se esta formação terá qualidade.

REFERÊNCIAS
BELLONI, M. L. Infância, mídias e educação: revisitando o conceito de socialização. Revista Perspectiva, n.25/1, Florianópolis/EdUFSC, 2007.
_________. Mídia Educação e Educação a distância na formação de professores. In: MILL, D.; PIMENTEL, N. Educação a distância: desafios contemporâneos. São Carlos: EdUFSCar, 2010 (prelo)
_________. O que é sociologia da infância. Campinas: Editora Autores Associados, 2009.
MILL, D. Sobre a formação de professores no Brasil contemporâneo: pen, sando a LDB e a EaD como pontos de partida. In: SOUZA, J.V.A. Formação de professores para a educação básica: dez anos de LDB. Belo Horizonte: Autêntica, 2007 p.265-284.
_________.; RIBEIRO, L.C.; ROZENFELD, M. Polidocência na educação a distância: múltiplos enfoques. São Paulo: CRV, 2010 (prelo).
_________. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tempos, coletividade e relações sociais de sexo na Idade Mídia. 2006. 322f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG), Belo Horizonte, 2006.
_________. Estudos sobre processos de trabalho em educação a distância mediada por tecnologias da informação e da comunicação. Belo Horizonte: FAE/UFMG. 2002. 193p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais.
PIMENTEL, N. O processo de consolidação da educação a distância nas instituições de ensino superior no Brasil: reflexões e práticas. In. MILL, D.; PIMENTEL, N. Educação a distância: desafios contemporâneos. São Carlos: EdUFSCar, 2010 (prelo)
SOARES, J.F. Qualidade e equidade na educação básica brasileira: fatos e possibilidades. In: Schwartzman. S.; Brock, C. Os desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

Um comentário:

  1. c) Olá Sandra! O ensino a distância não requer apenas e tão somente que se “adeque” o plano de ensino ou projeto político pedagógico de um curso presencial, para um curso EaD! Como o próprio autor fecha o artigo, por guardar muitas particularidades, nessa modalidade de ensino tudo muda, a começar pelo público alvo que são pessoas com outro perfil diferente do perfil de um aluno do presencial. Assim também, a formação do professor para atuar nessa modalidade deve ser voltada para as necessidades e dificuldades próprias desse tipo de ensino onde a atenção ao aluno deve ser o mais pontual possível de forma a proporcionar segurança e confiança ao aluno. Um abraço, Thereza.

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