quinta-feira, 17 de novembro de 2011

OS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, SUA FORMAÇAO PEDAGÓGICA E SUAS NECESSIDADES FORMATIVAS

Postado por Alessandra Morais Alves de Souza e Furtado

Alvanize Valente Fernandes Ferenc
PPGE/ Universidade Federal de Vicosa, MG
Ana Claudia Lopes Chequer Saraiva
PPGE/ Universidade Federal de Vicosa, MG

INTRODUÇÃO

Há algum tempo vimos nos dedicando ao estudo sobre a
docencia universitaria. Nessa trajetoria nos deparamos com os estudos
da decada de 1990 como os de Pimentel (1993) e Cunha (1995)11, por
exemplo, que problematizaram a questao da formacao pedagogica
dos professores desse nível de ensino frente às demandas postas
pelo exercicio profissional. As autoras, ao se referirem ao professor
universitario, em seu contexto e processo de constituicao profissional,
discutiram sobre a articulação entre os campos de formação e atuação
docente, explorando as influencias da primeira sobre a segunda,
buscando elementos que indicassem quais sao as bases para a
docencia; para uma docencia bem sucedida.
Dos anos de 1990 para 2000 se percebe a evolucao
dos debates, representada por uma producao de
conhecimentos de uma perspectiva na qual a formacao
do professor se voltava para a formacao do profissional
consciente de seu papel historico e comprometido com os
interesses da classe trabalhadora, para uma perspectiva
em que sao valorizados os aspectos microssociais,
enfase no sujeito, interesse pela constituicao de sua
identidade numa perspectiva cultural (SANTOS, 1995).
11 No Brasil, no que tange a producao cientifica sobre o ensino superior, podemos
nos reportar a muitos outros autores, tais que Pagotto ( 1988), Masetto (1991), Balzan (1998),
Pimenta (2002), Anastasiou (2002), dentre tantos mais.
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Podemos interpretar, a partir desses estudos, que a
aprendizagem profissional, a aquisicao dos saberes que orientam a
pratica docente, nao se restringe a um momento especifico ou estanque
da formacao. Ela se revela em um processo continuo e dinamico, que
se inicia antes da entrada no curso de formacao inicial, nas relacoes
que estabelecemos com diferentes sujeitos (os diferentes professores
que tivemos; os familiares), contextos (as escolas de diferentes niveis
ou outros ambientes, movimentos), perpassa-os e se projeta para o
campo de atuacao profissional, novamente com a diversidade que o
caracteriza, de sujeitos, experiencias e relacoes.
Nesse sentido, seriamais interessante falarmos da socializacao
profissional, compreendida como processo e contexto no qual os
professores se tornam membros de uma sociedade de professores,
adquirindo a cultura deste grupo, os conhecimentos, modelos, valores,
simbolos, integrando esta cultura e desenvolvendo a sua pertenca a
ela, num processo dialetico que supoe uma interacao continua entre
o individuo e a instituicao em que se esta socializando (ZEICHNER;
GORE, 1990; LUCAS, 1986, ZEICHNER, 1985). E, tambem, porque
estudos (TARDIF, 2002; NUNES, 2001; MARCELO GARCIA, 1999)
tem indicado que a aprendizagem do ensinar e, por conseguinte, a
construcao dos saberes profissionais dos professores, encontram
na socializacao profissional uma grande referencia explicativa, ainda
que nao exclusiva. E na confluencia de fatores pessoais, culturais e
sociais que o professor constroi a sua identidade profissional, ainda
que esta va se transformando ao longo da carreira, em suas diferentes
etapas: formacao, insercao no campo de trabalho e desenvolvimento
na profissao.
No entanto, ainda se percebe a pouca atencao dada a
formacao e preparacao do professor universitario para
o exercicio de ensinar (FERENC, 2005; ANDRE et
al, 1999; PIMENTA; ANASTASIOU, 2002; MARCELO
GARCIA, 1999, dentre outros). Embora os professores
universitarios possuam experiencias significativas
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e trajetoria de estudos em sua area especifica de
conhecimento e comum nas diferentes instituicoes de
ensino superior, o predominio do despreparo e ate
um desconhecimento cientifico do que seja o processo
de ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser
responsaveis a partir do instante em que ingressam na
sala de aula (PIMENTA e ANASTASIOU, 2002). Com
excecao do apoio nas ementas das disciplinas com as
quais irao trabalhar e que ja se encontram formalizadas,
os professores que ingressam no ensino superior
percorrem o caminho do ensino solitariamente.
Alguns professores afirmam se tornarem professores pela
experiencia; resultado de um processo de socializacao que se vale,
por um lado, da intuicao, das rotinas de outros professores e das
construções feitas por eles mesmos.
Diante de todas as exigencias feitas ao professor universitario
no exercicio profissional, e preciso pensar concretamente na
organizacao de espacos e tempos para que ele invista, cotidianamente,
em sua formacao, na aprendizagem para o exercicio de ensinar; no
enfrentamento, por exemplo, dos entraves quanto a transformacao
dos saberes acadêmicos em saberes escolares.
Entende-se, neste sentido, como competente as Instituicoes
de Ensino Superior uma politica de desenvolvimento profissional para
seus docentes promovendo, assim, a formacao ou aprimoramento
didatico-pedagogico, bem como o acompanhamento de seus docentes
no enfrentamento das demandas e desafios interpostos em seu
processo de atuação docente.
Tem-se observado em publicacoes e congressos,
mais recentes, um aumento da divulgacao de experiencias de
universidades, que buscam investir no desenvolvimento profissional
dos professores universitarios, por meio de cursos de capacitacao
sem um acompanhamento mais efetivo das práticas docentes. No
entanto, o pouco investimento na formacao para o exercicio de ensinar
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indica, ainda, a urgencia de investimentos, institucionais e individuais,
no processo de desenvolvimento profissional dos professores
universitarios em exercicio, principalmente daqueles que estao no
início da docência.
Nesse texto, vamos estreitar um pouco mais a discussao
sobre a problematica da formacao pedagogica do
professor universitario e, em seguida, explicitar as
reflexoes a respeito dos processos e das necessidades
formativas de professores que se encontram no inicio12
da docencia na universidade, fruto de uma pesquisa13
que temos desenvolvido. Analisaremos as necessidades
formativas visualizadas no contexto de atuacao
profissional por professores de uma universidade
publica, as modalidades de formacao reivindicadas e
as condicoes de trabalho docente frente aos processos
de intensificacao e precarizacao desse trabalho na
sociedade atual.

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO:
ESTREITANDO O FOCO

Pesquisadores como Pachane (2006), Ferenc (2005), Masetto
(2002), Fernandes (2001), dentre outros, tem estudado a formacao
do professor universitario considerando as atuais exigencias da
sociedade, buscando contribuir de forma significativa para que o
docente universitario realize sua pratica de modo reflexivo, mantendose
em constante renovacao para o exercicio da docencia.
De acordo com Marcelo Garcia (1998) as pesquisas sobre a
12 Trabalhamos com professores que se encontravam nos seis primeiros anos de
exercicio docente, pois alguns daqueles que nos foram indicados como iniciantes no magisterio
possuiam experiencias anteriores. Assim, alguns desses professores eram iniciantes na
instituicao que foi o locus da pesquisa.
13 A pesquisa sobre as Necessidades formativas de professores universitarios e
os processos de intensificacao e precarizacao do trabalho docente vem sendo desenvolvida
desde 2008, contando com apoio do CNPQ, por meio de bolsa de Iniciacao Cientifica, e com
financiamento da FAPEMIG, EDITAL 01/2009- Demanda Universal. E composta pela seguinte
equipe de pesquisa: FERENC, A. V. F; SARAIVA, A. C. L. C; SILVA, C. de F. da; BRAUNA, R.
de C. de A. ; BRANDAO, A. C. P. Portanto, as discussoes que aqui se apresentam ja foram
socializadas em outro momentos.
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formacao de professores tem alcancado um expressivo crescimento
a partir da decada de 1990. Anterior a esta decada a crenca de que
quem sabe, automaticamente, sabe ensinar era fortemente difundida
e vivenciada no meio academico. Assim, compreendia-se o processo
ensino-aprendizagem como uma transmissao de conhecimentos. O
professor era visto como o detentor do saber, enquanto o aluno era
considerado o único responsável pela apreensão deste conhecimento.
A enfase no processo de aprendizagem era dada, portanto,
aos saberes especificos das areas de conhecimento incorporados
pelos docentes, nao considerando, assim, os saberes pedagogicos e
didaticos que propiciam, por sua vez, a apreensao do conhecimento
pelo aluno. E preciso considerar, durante o processo de ensinoaprendizado,
a compreensao nao apenas dos saberes das areas de
conhecimento, mas, igualmente, de um conjunto de saberes, tais que:
dos saberes das areas de conhecimento (ninguem
ensina o que nao sabe), dos saberes pedagogicos (pois
o ensinar e uma pratica educativa que tem diferentes e
diversas direcoes de sentido na formacao do humano),
dos saberes didaticos (que tratam da articulacao da
teoria da educação e da teoria de ensino para ensinar nas
situacoes contextualizadas), dos saberes da experiencia
do sujeito professor (que dizem do modo como nos
apropriamos do ser professor em nossa vida) (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002, p.71).
Pimenta (2002, p.24), referindo-se a historia da formacao dos
professores, afirma que os diferentes saberes da docencia vem sendo
trabalhados como blocos distintos e desarticulados, o que decorre
do status e poder que adquirem na academia. Em epocas distintas
houve a sobreposicao de um saber em relacao ao outro e, com isso,
ora o espaço de status era ocupado pelos saberes pedagogicos
(relacionamento professor-aluno, a importancia da motivacao e o
interesse dos alunos no processo de aprendizagem, as tecnicas ativas
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de ensinar), ora pelos saberes cientificos, enfatizando a didatica das
disciplinas e assim por diante.
Para a superação da desarticulação apresentada é importante
que se tenha como ponto de partida para as reflexoes e debates
o cotidiano docente, problematizando os saberes pedagogicos a
luz da pratica social da educacao. Agindo desta forma, acredita-se
promover a articulacao dos varios tipos de saberes profissionais. No
entanto, o que se percebe e que a formacao do professor universitario
vem se dirigindo, prioritariamente, para os saberes especificos ou
disciplinares, em detrimento da formacao pedagogica. Tal realidade
pode ser constatada na secundarizacao da formacao pedagogica de
mestres e doutores nos diversos cursos de pos-graduacao do pais. Em
face desta realidade, a docencia na universidade tem se constituido
por docentes cujo investimento, em sua titulacao, os instrumentaliza
muito mais para as atividades de pesquisa
Assim, o dominio na area pedagogica tem sido o aspecto
deficitario dos professores universitarios, no que se refere ao
profissionalismo na docencia. Muitos professores nao reconhecem ou
minimizam a importancia dos saberes pedagogicos para a atuacao
profissional.
Concordamos com Masetto (2002) quando analisa que o
exercicio da docencia, da pesquisa, bem como a pratica de qualquer
profissao exige capacitacao propria e especifica. Assim, a didatica do
professor em sala de aula e posta em evidencia, pois se compreende
que, para a existencia de uma troca eficaz de conhecimentos nos
espacos pedagogicos, bem como para a construcao de novos saberes,
faz-se necessaria uma pratica que articule os saberes da docencia.
Face as consideracoes anteriormente explicitadas, somos
mobilizadas a pensar: se e delegada a universidade a competencia
de formar bons profissionais para atuacao em diversos contextos
sociais, a quem compete, entao, a responsabilidade de formar bons
professores para o exercicio da docencia universitaria?
A LDB no. 9394/9614, art. 66, estabelece que a formacao de
14 Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional LDB (Lei no. 9.394/96).
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professores para atuar no ensino superior no Brasil [...] far-se-a em
nivel de pos-graduacao, prioritariamente em programas de mestrado
e doutorado. Desta forma, nas Instituicoes de Ensino Superior (IES),
nos cursos de pos-graduacao Stricto Sensu, é ministrada a disciplina
Metodologia do Ensino Superior ou Didatica do Ensino Superior, com
carga horaria media de 60 horas, dirigindo-se a formacao docente.
Em se tratando da docencia universitaria, percebe-se que a
referida legislacao apresenta limites quanto a formacao didatica do
professor, constituindo-se este, num campo de silencio. (MOROSINI,
2001 apud FERENC, 2005, p 24). Na atual legislacao ha a explicitacao,
apenas, de que o docente do ensino superior deve ter competencia
tecnica, mas o que se compreende por competencia tecnica? De
que saberes se compoe? E possivel falar de competencia tecnica
no ambito da docencia sem se referir a competencia pedagogica?
Aqui ja percebe uma desconsideracao de que a docencia tem uma
especificidade quanto aos saberes que a alicercam.
Fica evidente, entao, a ausencia de uma politica diretamente
voltada para a formacao dos professores universitarios. Na relacao
Estado/Universidade, a politica de capacitacao didatica fica afeta a
instituicao. O governo normatiza e fiscaliza, e a instituicao desenvolve
os parametros atraves de sua politica de capacitacao. (MOROSINI,
2001, p.17).
Entende-se, portanto, que a formacao docente e um processo
complexoquenecessitadaconstrucaodeestrategias sistematicamente
organizadas, demandando esforcos pessoais e institucionais que se
efetivem concretamente. Entretanto, esse e o espaco onde ha uma
lacuna a ser preenchida, pois apesar do entendimento institucional
de que os docentes sao os responsaveis pela formacao de futuros
profissionais, sua formacao docente nao tem sido valorizada nem
pela maioria das IES nem pelas políticas voltadas para a educação
superior (ISAIA, 2006, p.66).
Considera-se, enfim, que a formacao do professor universitario
seja realizada, concomitantemente, de modo individual e coletivo,
amparada devidamente pela Instituicao de Ensino Superior da qual
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o docente faz parte. No ambito individual para que o professor reveja
sua pratica, reflita sobre ela e se auto-avalie. Ja de forma coletiva,
vislumbrando novas possibilidades do fazer docente.

SOBRE NECESSIDADES FORMATIVAS DE PROFESSORES

Quando refletimos sobre necessidades formativas de
professores e importante considerar que estamos nos reportando a
um universo conceitual composto de diferentes acepções. Rodrigues
e Esteves (1993) reportando ao conceito Necessidade de formacao
reconhecem que o termo necessidade implica sempre, mais ou
menos directamente, algum problema de valor ou de referencia, ou
certas normas sociais em funcao das quais se mede a necessidade
(DHAINAUT, 1979 apud RODRIGUES; ESTEVES, 1993, p. 13).
Compreende-se, portanto, que as necessidades sao, assim, juizos
de valor (MCKILLIP, 1987 apud RODRIGUES; ESTEVES, 1993, p.
13).
As autoras ao problematizarem o termo necessidade, ainda,
fazemmenção às chamadas necessidades fundamentais ou autênticas
que, apesar de possuirem muitas e variadas tipologias, podem ser
hierarquizadas em cinco categorias (necessidade fisiologica, de
seguranca, de pertenca, estima e realizacao pessoal).
A respeito da satisfacao destas necessidades fundamentais,
Rodrigues e Esteves (1993) afirmam que estas se encontram
diretamente relacionadas a sobrevivencia, ao bem-estar e o
desenvolvimento do ser humano, tanto no plano biologico como no
psicologico e social.
Acredita-se que no momento do planejamento de estrategias
formativas ou, mesmo, ao se avaliar a eficacia de um programa de
formacao de professores, deve-se levar em consideracao a otica sob
a qual estas necessidades estao sendo analisadas.
Muitas vezes as necessidades formativas, embora
sejam por muito tempo expressas pelos professores
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e por aqueles diretamente envolvidos no processo
educativo, nao sao implementadas nem regulamentadas
a nao ser quando passam a se constituir, tambem, como
necessidades do sistema produtivo (PACHANE, 2006,
p.107-108).
A autora citada caracteriza as necessidades formativas como
necessidades proprias, necessidades externas e necessidades
comparadas. As necessidades proprias podem ser compreendidas
como aquelas advindas da concepcao do professor, por se ver
com dificuldades em sua pratica docente ou formacao, constatando
seu despreparo no que diz respeito a questoes pedagogicas. E
as necessidades externas podem ser compreendidas como as
necessidades detectadas a partir de mudancas que ocorrem no
ensino superior e no contexto mais geral no qual esta inserido, como,
por exemplo, no sistema produtivo, mudancas essas que acabam por
influenciar as caracteristicas necessarias ao professor universitario
(perfil) [...] (PACHANE, 2006, p. 106).
E, por fim, correspondente as necessidades detectadas a partir
da comparacao de diferentes situacoes ou grupos ou da discrepancia
entre um modelo ideal e o que efetivamente se realiza tem-se as
necessidades comparadas. Estas, segundo Pachane (2006) referemse,
aos resultados de programas de avaliacao; a disparidade
entre a formacao pedagogica oferecida a professores
de outros niveis educacionais (e deles exigida) e a
dos professores do ensino superior; a correlacao entre
titulacao e melhoria da qualidade docente e a diferente
valoracao das atividades de pesquisa e de ensino na
educacao superior. A comparacao entre a formacao
oferecida a professores em diferentes paises tambem se
constituiria em uma maneira de se levantar necessidades
comparadas (PACHANE, 2006, p. 107).
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Em pesquisas realizadas sobre as necessidades formativas de
professores universitarios, estas aparecem problematizadas frente as
condições reais do trabalho docente na universidade contemporânea.
Condicoes essas marcadas pela intensificacao do trabalho e pela
ausencia de tempo para o investimento, cotidiano, no processo de
desenvolvimento profissional. Especificamente, para o investimento
nos saberes da docencia (FERENC; SILVA; SARAIVA, 2008).
Pode-se compreender que a analise das necessidades se
refere a investigacao, discussao e analise de informacoes que permitam
identificar dificuldades que precisam ser melhoradas e planejar acoes
que visam a superacao dessas necessidades. Essa pratica e um
recurso importante para o planejamento dos sistemas educativos e
principalmente para o desenvolvimento de acoes formativas (SILVA,
2000 apud PIMENTA et al., 2002, p. 210).
Compreende-se, assim, o estudo das necessidades formativas
dos professores universitarios como algo bastante complexo, uma vez
que acompanha todo o processo de formacao do professor, desde
a discencia, ate os tempos do exercicio docente, contexto em que o
profissional do magisterio superior depara-se com necessidades de
ordem didatico-pedagogica, curricular, organizacional, pessoal, dentre
outras.
Portanto, as necessidades formativas precisam ser
consideradas a partir do lugar de formacao do professor universitario,
ou seja, do seu campo de conhecimento, de suas concepcoes, valores,
bem como suas expectativas em relacao a pratica docente. Entendese
que, cotidianamente, na pratica docente, tais necessidades
podem se revelar, tanto diversas quanto variadas, uma vez que
diversos e variados sao, igualmente, os campos de conhecimento dos
docentes universitarios, o modo de pensar do professor, a apreensao
e transmissao do conhecimento pelo professor, bem como suas
experiencias anteriores a docencia universitaria.
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NECESSIDADES E POSSIBILIDADES FORMATIVAS DE
PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS.

Para falarmos sobre as necessidades formativas de professores
universitarios traremos dados relativos a uma pesquisa realizada
com 32 professores universitarios do Centro de Ciencias Humanas,
Letras e Artes (CCH), iniciantes no magisterio. Esses participaram da
1a. Fase da pesquisa preenchendo um formulario que continha duas
expressoes indutoras: Necessidades Formativas e Possibilidades
Formativas. Pedimos aos professores que refletissem sobre sua
pratica pedagogica, em situacoes diversas (junto a seus alunos, em
sala de aula, ou no momento de planejamento), e indicassem suas
necessidades formativas. Em face dessas necessidades deveriam
apontar as condicoes indispensaveis para se atende-las, ou seja, as
possibilidades formativas visualizadas.
Vamos nos deter aqui as necessidades formativas relativas a
formacao pedagogica dos docentes universitarios investigados, ja que
nosso foco de analise refere-se as necessidades formativas (pessoais
e institucionais) de professores iniciantes no magisterio superior, que
foram visualizadas no decorrer de sua prática docente. Da mesma
forma, posteriormente, nos deteremos nas possibilidades formativas
visualizadas pelos professores.
Segundo as informações fornecidas pelos professores do CCH
as necessidades formativas por eles vislumbradas concentraram-se,
em sua maior parte, na categoria Formacao Pedagogica. Houve
maior ênfase nas necessidades formativas relacionadas à formação
didatico-metodologica, sendo indicados cursos de metodologia do
ensino, bem como os de didatica.
Outra necessidade apontada por alguns docentes do CCH se
refere ao trabalho interdisciplinar (inserido na categoria Formacao
Pedagogica), ou seja, enfatizam a necessidade de trocas de
experiencia, por meio da interacao entre as areas e com docentes de
outras instituicoes. Este dado reforca a compreensao de que a docencia
e uma profissao que fomenta o isolamento entre os professores,
584
considerando as condições do trabalho docente nas instituições.
Assim, a docencia acaba por tornar-se o lugar onde [...] predomina
a cultura do individualismo, juntamente com a balcanizacao, por
oposicao a uma cultura de colaboracao (MARCELO GARCIA, 1999,
p.145).
O reconhecimento da necessidade de formacao pedagogica
do docente universitário apontada pelos professores do CCH desperta
nossa atencao por se tratar do Centro de Ciencias responsavel, na
instituicao, pela formacao pedagogica dos licenciados, possiveis
futuros professores. Os proprios sujeitos investigados reconhecem
seus limites quanto a questoes como didatica, desenvolvimento
adequado de uma aula, oratoria, o conhecimento do processo ensino
e aprendizagem e outros.
Fica, portanto mais uma vez evidente, que os saberes didaticopedagogicos,
das areas de conhecimento e os saberes da experiencia,
aos quais os docentes foram submetidos ou que experienciaram,
quando de sua formacao inicial, ja nao sao suficientes para o exercicio
da pratica docente, solicitando deles investimento em um processo de
desenvolvimento contínuo.
A partir do exposto pode-se inferir que as Necessidades
Formativas aqui apontadas sao da ordem das necessidades proprias,
uma vez que, sao advindas da concepcao do proprio professor, por
se ver com certas dificuldades em sua pratica docente ou formacao,
constatando seu despreparo no que diz respeito a questoes
pedagogicas ( PACHANE, 2006).
No entanto, no que se refere a indicacao de recurso didatico,
infra-estrutura e recurso financeiro como necessidades formativas,
pelos docentes, reconhecemos que apesar de essas nao se
constituírem diretamente uma necessidade referente de formação
pedagogica, essas influem consideravelmente na pratica docente.
A carencia de recursos materiais e financeiros pode inviabilizar a
execucao de um projeto pedagogico.
A segunda palavra indutora utilizada no formulário de
pesquisa e apresentada aos docentes universitarios diz respeito as
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Possibilidades Formativas, ou seja, aquelas atividades que poderiam
ser desenvolvidas, tanto no plano individual quanto no institucional e
que viriam ao encontro das necessidades formativas visualizadas no
decorrer do exercicio profissional docente.
Os docentes do CCH apesar de, novamente, terem apontado
possibilidades formativas advindas de necessidades de aspectos
diversos, mantiveram seu foco de atencao, indiscutivelmente, sobre
a formacao pedagogica do docente universitario, com enfase nos
aspectos didatico-metodologicos, como por exemplo, cursos, oficinas,
acompanhamento por parte de um coordenador pedagogico etc. Este
ponto de vista vai, ainda, ao encontro das necessidades formativas
por eles apontadas, anteriormente, uma vez que, enfatizaram
necessidades concernentes, em sua maioria, a formacao pedagogica
do professor, visando o exercicio eficaz da docencia superior.
A partir das possibilidades formativas vislumbradas pelos
docentes investigados pode-se inferir que essas vao ao encontro
das questoes que permeiam as discussoes atuais sobre a formacao
docente, pois se percebe que para os sujeitos apontar caminhos
para o seu desenvolvimento profissional significa reconhecer os
limites de sua formacao docente, principalmente no que se refere
ao aspecto pedagogico. Neste sentido, compreendem sua pratica
docente, sobretudo em sala de aula, como uma acao que necessita
de investimento constante, pois segundo Marcelo Garcia, (1992, p.
55), a nocao de desenvolvimento tem uma conotacao de evolucao e
de continuidade [...].
Outro aspecto citado pelos participantes da pesquisa como
aquele que se relacionaria a uma possibilidade formativa se refere
ao fator tempo, uma vez que este e de suma importancia para o
desenvolvimento de atividades como a preparacao das aulas, estudar/
pesquisar, fazer cursos.Os professores solicitam a diminuicao de carga
horaria em questoes administrativas e aumento de carga horaria em
questoes que tratem do ensino, pois a a intensificacao [do trabalho
docente] conduz a uma falta de tempo para o aperfeiçoamento das
destrezas e para a actualizacao profissional (HARGREAVES, 1998,
586
p. 133).
Neste sentido, podemos concluir que a forma como o tempo de
trabalho e apropriado e preenchido interfere, diretamente, no processo
de desenvolvimento profissional do docente universitario.

CONCLUSÕES

A discussão sobre a formação do professor universitário e as
necessidades e possibilidades formativas que docentes iniciantes
no magisterio, especificamente do Centro de Ciencias Humanas,
visualizam em sua instituicao de atuacao profissional, quando do
exercicio de ensinar, apontaram para um quadro de necessidades de
diferentes ordens: estruturais, organizacionais, didatico-pedagogicas
etc. Desta forma, os professores investigados sinalizaram
possibilidades para sanar ou mesmo minimizar tais carencias, sendo
estas de ordem material, relacional e/ou curricular.
Constatamos, por meio das indicacoes dos participantes
da pesquisa, algumas propostas de praticas de desenvolvimento
profissional docente que gostariam que fossem oferecidas pela
instituição investigada como oficinas pedagogicas sobre a pratica de
ensino, formacao de uma comissao mista responsavel por organizar
seminarios e cursos sobre didatica no ensino superior, dentre outros.
Neste sentido, entendemos que as necessidades formativas
apontadas pelos sujeitos de nosso trabalho tenham, possivelmente,
implicações sobre a prática docente emsala de aula e sobre a formação
de futuros profissionais. Isso indica a demanda por maior investimento
pessoal e institucional no desenvolvimento profissional dos docentes,
tomando como referência as possibilidades formativas levantadas.
Conclui-se, portanto, que os professores investigados, sem
excecao,aosinalizaremsuasnecessidades,bemcomoaspossibilidades
formativas para a melhoria de sua prática docente reconhecem uma
demanda pessoal, principalmente, no que se refere a formacao
pedagogica, mas o fazem, tambem, em relacao a instituicao de ensino
a qual fazem parte como profissionais da docencia no ensino superior.
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Um comentário:

  1. Oi, Alessandra!
    É claro que existem diferenças entre os perfis de professores dos vários níveis e modalidades de ensino, mas é certo que todos precisam de formação docente. Isso vem sendo demonstrado pelas pesquisas e muitos professores estão se conscientizando dessa realidade. Ponto para a educação!

    DICA: Para atender à solicitação das professoras Vânia e Marilene, faça a separação, ou destaque, dos principais elementos do trabalho, como Objeto, problemática, objetivos, justificativa, metodologia, resultados e outros.

    Muito obrigada.
    Abraços.
    Carla Alessandra

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